Vida sem glúten

Adaptação da alimentação causa mudança de vida a celíacos

Os produtos sem glúten ganham cada vez mais espaço a partir da maior conscientização sobre a doença celíaca. Para os que têm a doença ou sensibilidade ao glúten, a adaptação na alimentação pode melhorar muito a qualidade de vida.

Você conhece algum celíaco? Provavelmente sim, não é? Essa doença, que causa intolerância ao glúten, acomete diversas pessoas no Brasil. A conscientização sobre ela surtiu mais diagnósticos às pessoas que sempre tiveram sintomas crônicos mas ainda não tinham encontrado a causa. Dados da Organização Mundial da Saúde mostram que cerca de 1% da população mundial é celíaca, mas no Brasil ainda faltam pesquisas mais concretas.

Jemima Isnardo, nutricionista, mestra e doutoranda em fisiopatologia clínica e experimental, não só trabalha com nutrição, como também tem a doença celíaca. Ela explica que existem três desordens relacionadas ao glúten: a doença celíaca, a alergia ao trigo e a sensibilidade ao glúten (popularmente chamada de intolerância ao glúten). As maiores diferenças são em relação à manifestação dos sintomas. A doença celíaca é diagnosticada quando há evidências em relação à não absorção de nutrientes no intestino delgado, que é afetado pela inflamação que a ingestão do glúten causa. Ela é autoimune, permanente e o tratamento é cortar completamente o glúten, que pode ser encontrado no trigo, centeio, cevada e aveia, assim como nos seus derivados.

Quem é sensível ao glúten não manifesta sintomas alérgicos nem auto-imunes, ou seja, a manifestação é sobretudo gastrointestinal, sendo comum ocorrer desconforto e distensão abdominal, dor e diarreia, mas podem existir reações extra intestinais. Já a alergia ao trigo acontece quando há uma relação imunológica às proteínas do trigo e, neste caso, é possível que ocorram sintomas respiratórios (asma, rinite), da alergia alimentar (gastrintestinais, urticária, angioedema ou dermatite atópica) e urticária de contato. Jemima afirma que o diagnóstico deve sempre ser feito por um profissional: “Durante o tratamento é imprescindível um acompanhamento regular com o médico e o nutricionista, principalmente porque existem outras doenças que se manifestam de forma similar aos sintomas da sensibilidade ao glúten”.

Proporcionalmente ao aumento de pessoas que descobrem a intolerância, também vêm crescendo o número de produtos que não contém glúten no mercado. A empresa carioca Cultivar Alimentos, cujos produtos podem ser encontrados nas cestas de orgânicos do Meu Amigo tem um Sítio, promove alimentação sem glúten consciente e saudável. A empresa foi fundada por Jucenei Batista e Euler Dantas há 20 anos e atualmente é administrada por Jucenei, mais conhecida como Juju. A produtora tinha um processo inflamatório crônico e, quando se informou sobre o glúten, decidiu parar de consumir. Foi então que sua qualidade de vida mudou radicalmente. “Foi difícil, porque eu venho de família de agricultores e todos os meus bisavós e tataravós faziam pão em casa. Eu tinha uma tradição de conhecimento de pão muito grande e tive que abandonar tudo e começar do zero para fazer o pão sem glúten”, revela Jucenei.

A Cultivar, há 12 anos atrás, passou a produzir tudo sem glúten. A ideia era proporcionar a outras pessoas essa mudança que tanto valorizou em sua alimentação. Enquanto ela assumiu a administração da Cultivar, seu ex-marido Euler Dantas ficou com a produção da empresa Massa Mãe, já que para os celíacos é importante garantir a separação total dos produtos, uma vez que mesmo em pequenas quantidades podem gerar uma reação, como explica Jucenei: “A doença celíaca não depende da dose, uma micro partícula pode prejudicar bastante a pessoa. É claro que tem pessoas que não são intolerantes, mas sim alérgicas ao trigo”.

É isto que confirma a nutricionista Jemima Isnardo, ao explicar que o único tratamento para as condições relacionadas ao glúten é parar de consumi-lo, mas a quantidade que pode gerar uma reação depende de cada organismo. “O grau de tolerância está relacionado à sensibilidade ao glúten. Alguns indivíduos toleram mais e outros menos. Na doença celíaca e na alergia até farelo mínimo pode desencadear resposta imunológica/autoimune. O mais recomendado é manter uma dieta isenta em glúten rígida”, afirma.