Veganismo e Sustentabilidade: mais que alimentação, é estilo de vida

Você sabe o que significa flexitarianismo, ovo-lactovegetarianismo, lactovegetarianismo, veganismo e vegetarianismo?

Enquanto a tradicional indústria pecuária sofre uma queda no volume de vendas e no consumo de carne no Brasil, os produtos que não são de origem animal ganham o mercado. Mas, afinal, quem são os ovo-lactovegetarianos, vegetarianos e veganos?

Texto por Ana Luísa Vasconcellos

O Brasil é um dos países no mundo que mais consomem carne. Os dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), de 2020, não deixam dúvidas: ocupamos o 5º lugar no ranking mundial de maiores consumidores de carne, que é liderado por Estados Unidos, Austrália, Argentina e Israel. Mas, nos últimos anos, a tendência ao consumo sustentável e consciente criou um público que domina as novidades e lançamentos do mercado alimentício. São os flexitarianos, lactovegetarianos, ovo-lactovegetarianos, vegetarianos e veganos. Os vegetarianos já constituem 14% da população, somando 30 milhões de brasileiros, de acordo com pesquisa do Ibope encomendada pela Sociedade Vegetariana Brasileira, de 2018.

Uma dessas pessoas é a chef Mari Menezes, que se considera vegetariana desde o ano de 2015 e vegana desde 2016. Mari é idealizadora e chef de cozinha do restaurante Aluá Casa, um empreendimento de culinária vegetariana/vegana em Niterói que começou em 2019. Focada na gastronomia sustentável, a chef desenvolve pratos com alimentos que não são de origem animal, além de seguir a linha do slow food: “Esse conceito tem um olhar de integração para a alimentação. É a oposição ao fast food, de comida padronizada e impessoal. O slow food olha para o alimento de forma artesanal e cuidadosa, com valorização dos ingredientes naturais e conexão com o alimento local”, explica a chef.

Redução do consumo

Assim como a busca por comida rápida e prática, a produção pecuária em larga escala e a vocação do brasileiro para consumir produtos de origem animal parecia um fato consumado. Além do enorme setor pecuário – que constitui um volume grande da exportação do país e abastece o mercado interno -, a carne sempre fez parte da identidade brasileira. Afinal, quem não cresceu em meio aos churrascos familiares de domingo? O consumo per capita de carne no Brasil é de 78 kg por ano, também de acordo com a pesquisa da OCDE de 2020.

Isso pode parecer pouco, mas é necessário considerar que o aumento do preço na categoria pode ter sido responsável pela diminuição do consumo neste ano. É isso que a pesquisa do Ibope encomendada pelo Good Food Institute Brasil revela: 46% dos brasileiros diminuíram o consumo de carne no Brasil, ou seja, quase metade da população.

Por outro lado, o interesse pela busca de proteínas de origem vegetal cresceu principalmente por conta do aumento da conscientização dos públicos que entendem a importância da gastronomia sustentável, do slow food, do impacto da pecuária no meio ambiente e das práticas de crueldade animal que essa indústria aplica na produção. Uma das empresas parceiras do Meu Amigo tem um Sítio, a Pró-Tempeh, produz proteína vegetal baseada no tempê, um alimento de origem indonésia feito à base de soja orgânica. O sócio da Pró-Tempeh Marcelo Brotherhood é vegano e, antes de fazer essa transição, trabalhou com carne animal:

“Eu fui um dos vendedores da JBS Friboi, em Rondônia, e sempre trabalhei na indústria de carne. Sei que o que fazem com os animais, com o meio ambiente e com o ser humano é absurdo, algo avassalador. O que mais mudou nos meus hábitos quando fiz a mudança foi o modo de ver as coisas. A compaixão pelo próximo, o amor pelos animais, pelo meio ambiente e a consciência são um processo. Você começa a não usar roupa de couro, depois a reciclar o lixo e então aos poucos vai mudando seu consumo, sendo mais consciente e menos consumista”, afirma Marcelo.

Estilo de vida

A chef Mari Menezes entende que a busca pela alimentação baseada em vegetais e com menos carne animal não é necessariamente só para quem segue o vegetarianismo estrito: “Essa alimentação traz o foco para o vegetal, seja você vegetariano ou não. O prazer em comer vegetais e ter um prato colorido e rico é algo que todos poderiam usufruir. A gastronomia sustentável é uma prática que precisamos ensinar às crianças urgentemente. O planeta não vai aguentar, então se não começarmos a mudar o discernimento das novas gerações, teremos muitos problemas no futuro”, opina.

Entre os tipos de vegetarianismo, existem alguns subgrupos: são os vegetarianos, os lactovegetarianos, os ovo-lactovegetarianos e os veganos. Os já conhecidos vegetarianos são os que se abstém somente de carne. Os lactovegetarianos, por sua vez, optam por uma dieta que ainda inclui produtos lácteos e de origem animal, como leites e iogurtes. Há ainda os ovo-lactovegetarianos, que não comem carne, mas ainda consomem ovos e laticínios, sendo um grupo menos restritivo. Os veganos são os que não consomem absolutamente nada de origem animal, desde alimentos até roupas e objetos que possam ter sido produzidos com algum tipo de exploração animal.

Além desses grupos, há também os flexitarianos, que são os que buscam a diminuição de carne na dieta sem cessar de vez esse consumo, muitas vezes partidários da chamada “segunda sem carne”, um dia da semana determinado para não comer proteína de origem animal. Esse grupo é o que constitui a maior parte dos clientes do restaurante Aluá, como explica Mari: “Esse pessoal está começando a despertar e se educar para as causas ligadas à alimentação e sustentabilidade. É um estilo de dieta que permite mas diminuiu esse consumo, abrindo oportunidade para uma alimentação vegetariana”, relata.

Adaptação aos tipos de vegetarianismo

Segundo Mari, muitas vezes, as pessoas começam de forma mais flexível e depois decidem realmente optar por um vegetarianismo mais estrito. Sua experiência com essa transição, entretanto, foi diferente: “Virei vegetariana de um dia para o outro, mas depois de ter trabalhado essa ideia por um tempo. Em uma refeição específica, me senti muito mal e decidi não comer mais carne. Os primeiros meses foram difíceis, mas trabalhando com cozinha tive facilidade de buscar estudar o tema. Essa transição precisa de educação para saber se é necessário fazer substituições e como fazer”, opina.

Apesar de ser necessário mudar os hábitos alimentares para garantir um futuro mais sustentável, essa mudança não precisa ser feita de maneira radical, principalmente porque pressupõe uma adaptação na rotina das pessoas. Muitas vezes, sobretudo no Brasil, as famílias e ambientes sociais implementam hábitos alimentares que nem sempre são fáceis de quebrar. Alguns exemplos são as comidas prontas, ultraprocessadas e baseadas na proteína animal, que fazem parte de uma grande parcela dos pratos da população brasileira e, muitas vezes, contém agrotóxicos. Para buscar essa transição e atingir uma dieta baseada em proteína vegetal, também chamada de plant-based, muitas vezes é mais fácil começar aos poucos e, quem sabe, um dia atingir o veganismo mais estrito.