Nutrição e ansiedade: como e o que comer para conter essas sensações

Relação nutrição e ansiedade

Durante a pandemia de covid, os cuidados entre nutrição e ansiedade se tornaram ainda mais importantes. Enquanto o primeiro foi negligenciado com aumento de preços e sedentarismo, o segundo aumentou em níveis alarmantes.

Pesquisas demonstram um aumento de doenças mentais como ansiedade e depressão durante a pandemia. E você sabia que a nutrição tem tudo a ver com isso? Mariana Escanho, nutricionista parceira do Sítio, fala de saúde corporal e sua conexão com a saúde mental, além de práticas de conexão com o alimento.

Qual a relação entre nutrição e ansiedade?

A alimentação e a nutrição e ansiedade possuem uma relação íntima. Desde a bulimia à anorexia, passando por transtornos e crises de ansiedade, a alimentação pode entrar tanto como aliada quanto como agravante do problema.

Aos que se encontram em um momento difícil, a cozinha pode ser um refúgio, garantindo o preparo de pratos em casa que tenham a energia necessária para o corpo, mas também trazendo à rotina um hábito que pode ser considerado terapêutico, o de cozinhar o próprio alimento.

Entretanto, nem sempre o ato de alimentar-se é encarado com essa leveza, podendo trazer à tona transtornos alimentares e uma relação de culpa com a comida, de forma que o alimento se torna mais um peso em meio a um cenário já complexo de pandemia.

Aumento de ansiedade durante a pandemia

E, este ano, o assunto está mais latente do que nunca. Uma pesquisa feita entre maio e julho de 2020, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), revelou que 80% da população brasileira se tornou mais ansiosa desde o início da pandemia de Covid-19.

A média dos outros países é de cerca de 30%. Em entrevista para a Agência Brasil, a coordenadora da pesquisa, Adriane Ribeiro Rosa, explicou os resultados da pesquisa. 

A principal conclusão da pesquisa foi que, nesse período de pandemia, as pessoas desenvolveram ou aumentaram – quem já tinha – sintomas de estresse, ansiedade ou depressão. Isso foi bem marcante, até porque, quando se comparam os nossos dados com os de outros países, como Itália e China, 80% da população da nossa amostra chegaram a reportar sintomas moderados a graves de ansiedade e 68%, depressão

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), antes da pandemia, o Brasil já figurava como o país mais ansioso do mundo e também representava maior incidência de depressão da América Latina, impactando aproximadamente 12 milhões de pessoas.

Outro estudo, realizado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), revelou números ainda mais preocupantes: um aumento de 90% nos casos de depressão. Ainda segundo a pesquisa, o número de pessoas que enfrentam crises de ansiedade ou sintomas de estresse agudo praticamente dobrou entre março e abril de 2020.

Depressão e ansiedade são assuntos sérios e, durante a pandemia, diversas pesquisas demonstraram o aumento das doenças mentais na população brasileira. Entre as causas, estão os problemas trazidos pelo isolamento social, o luto, a crise econômica, entre outras.

Cozinhar para aliviar a crise de ansiedade

É importante lembrar que se você está lidando com crises de ansiedade, buscar ajuda profissional é indispensável. Mas você sabia que a alimentação e a nutrição do nosso corpo têm tudo a ver com a saúde mental? E como podemos resgatar os hábitos saudáveis e conscientes neste cenário?

A nutricionista comportamental Mariana Escanho, nossa parceira aqui no Sítio, acredita na conexão com o alimento para buscar uma nutrição completa. Afinal, o alimento é social, afetivo e cultural, além de nutricional.

Quando a gente cozinha, estamos falando de um processo terapêutico. O contato com o alimento, a criação, a observação das etapas: desde cortar um alimento cru até vê-lo pronto, isso pode ser visto como terapêutico.

Às vezes as pessoas veem o cozinhar como uma missão porque existe de fato uma sobrecarga de tarefas na vida adulta. Mas existe um envolvimento com o alimento quando preparamos ele, além de um poder sensorial, de sentir texturas, o cheiro, a temperatura, a gente se torna mais íntimo do alimento e isso é muito positivo

A saúde mental é um assunto muito mais complexo do que parece aos leigos. É importante buscar um profissional da área – psicólogos e psiquiatras – para entender e tratar as doenças mentais quando há necessidade. No mês do setembro amarelo, escolhido para conscientizar e prevenir o suicídio, muito se fala sobre saúde mental e sobre a importância de trazer este tema à tona, sem tabus. 

Hábitos de alimentação afetam a ansiedade

Com a pandemia, a rotina mudou. Para os que precisam trabalhar presencialmente, o medo e o cuidado com a higiene se tornaram práticas prioritárias durante o convívio fora de casa. Já para os que estão em casa, isolados, os hábitos também foram radicalmente impactados.

Em algumas famílias, as refeições em casa foram uma oportunidade de reconexão e troca enquanto, para outras, de mais estresse e aumento do consumo de comidas processadas. Algo que se recupera apenas com o consumo de alimentos orgânicos.

Segundo estudo realizado pelo Datafolha, sob encomenda do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor, durante a pandemia o consumo dos ultraprocessados saltou de 9% para 16%, na comparação entre os anos de 2019 e 2020. Diminuíram a exposição ao sol e o ganho de vitamina D, além do convívio social.

O aumento de ansiedade de alguma forma pode ser transferido para a alimentação através de comer emocional disfuncional, ou seja, eu uso o alimento para aliviar algumas sensações que estou sentindo. O próprio fato de as pessoas estarem em casa, mais sedentárias, além do boom das mídias digitais, ainda aumentaram a preocupação com a alimentação, mas de uma forma negativa.

O medo de engordar aumentou, assim como a dificuldade de aceitação do próprio corpo e às vezes até da aceitação da limitação emocional de algumas pessoas de fazerem o exercício físico

Redes sociais e ansiedade corporal

Como citado por Mariana, entre os novos hábitos trazidos pela pandemia está o aumento do uso das redes sociais. Segundo a Kantar, uma marca especializada em pesquisas de mercado, as redes sociais como WhatsApp, Instagram e Facebook tiveram um crescimento de uso de 40% na pandemia.

Esse fato trouxe um mundo mais conectado, sobretudo quando esta era a única opção, mas também uma comparação maior entre a nossa realidade e a realidade “divulgada” nas redes sociais. 

Sobretudo para os adolescentes, a comparação pode gerar uma pressão por um corpo “perfeito” e pela busca constante de uma vida dentro do padrão estabelecido como ideal.

Nesse ambiente temos uma exposição a uma comparação que é irreal, que é fictícia. E estamos falando da comparação tanto em relação à alimentação e ao corpo quanto a adesão à atividade física de cada um.

Porque cada um teve uma resposta, então têm pessoas que tiveram energia e cabeça para conseguir fazer exercício e outras que não. E está tudo bem, a gente tem que olhar o que está acontecendo na nossa casa

Emocional, físico e psicológico

Você deve ter notado que ainda não respondemos à pergunta: como resgatar hábitos saudáveis? Neste cenário, a resposta é extremamente complexa e não é única para todos. Muitos diriam que o importante é cuidar da alimentação, buscar tomar sol sempre que necessário e fazer exercícios físicos.

Mas não é possível seguir essa fórmula em todos os casos. E o que fazer quando bate a culpa? Antes de tudo, é importante ser compreensivo consigo mesmo, tomando cuidado para não transformar o momento da alimentação numa insatisfação ou num desprazer.

A gente está falando de um combo que interfere muito na saúde: o estado emocional, a exposição solar, o contato social, atividade física e alimentação! Os transtornos alimentares precisam de um gatilho para serem desenvolvidos e a pandemia foi um gatilho para muitas pessoas.

Seja pela comparação das redes sociais em relação ao corpo ou por não estar conseguindo manter aquela rotina ideal. A ansiedade nos coloca em um lugar muito vulnerável, vira uma porta de entrada até para distúrbios intestinais.

Relação entre saúde mental e intestino

A saúde mental acaba, muitas vezes, se relacionando ao intestino. É comum o desenvolvimento de doenças intestinais e estomacais por pessoas que estão sofrendo com o estresse ou com ansiedade, de forma que acabam absorvendo menos nutrientes.

De acordo com Mariana Escanho, para manter o estômago regulado, é extremamente importante investir em uma alimentação rica em frutas, verduras e aveia, que possuem fibra. Ela ainda recomenda o consumo de peixes, ricos em ômega 3, que costuma estar relacionado à saúde mental.

E, para buscar a reconexão, talvez a saída seja começar aos poucos e sem muita cobrança. Além de, claro, procurar ajuda profissional em caso de distúrbios intestinais contínuos ou depressão e ansiedade.

O primeiro passo é a gente investigar como está essa relação com a comida. Porque às vezes a minha própria alimentação está me deixando mais ansiosa, ou seja, se eu fico muito preocupada, com muitos medos e inseguranças eu estou insegura com as minhas escolhas