Introdução alimentar: como fazer de forma saudável e respeitosa

Introdução alimentar

Você com certeza já ouviu a famosa frase “olha o aviãozinho”, dos seus pais quando era criança, ou até mesmo já falou isso para convencer alguma criança a comer. Essa é a introdução alimentar: inserir novos alimentos, sabores e texturas na dieta de crianças e bebês.

Muitas vezes, mães e pais têm dificuldade em fazer a criança começar o processo de alimentação, sobretudo por falta de informação especializada e por medos que surgem em relação à introdução alimentar. A nutricionista parceira do Sítio, Mariana Escanho, fala sobre a importância de respeitar as crianças e sua fome e saciedade durante o processo.

A gente preza por uma introdução respeitosa, que entenda e respeite o tempo da criança, desde o tempo que ela precisa para botar a mão no alimento, cheirar e levar à boca. Porque quando nós levamos à boca das crianças sem que ela apresente sinais de interesse e a forçamos a comer, isso pode ser considerado invasivo, já que ela precisa passar por uma etapa de exploração, que gere conforto para aceitar levar a comida para dentro do seu corpo!

Mariana Escanho

Quando começar a introdução alimentar

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o aleitamento materno exclusivo é o mais recomendado para bebês de até 6 meses de idade e é nutricionalmente completo, protegendo contra infecções gastrointestinais e trazendo vários benefícios para a saúde do bebê. Desta forma, após os seis meses de idade, a introdução alimentar pode começar.

Para as mães e pais impossibilitados de prover leite, o aleitamento pode ser feito a partir da doação de leite humano. O Brasil possui mais de 200 bancos de leite humano e a doação de leite é muito importante para a sobrevivência de diversos bebês. Se você tem interesse em saber mais sobre o processo de se tornar uma doadora confira informações neste link.  

O acompanhamento de um pediatra é essencial para avaliar os sinais de prontidão de cada bebê: para a introdução alimentar, o bebê deve se sentar bem, ficar durinho com apoio mínimo e ter perdido o reflexo de protrusão da língua.

Não há vantagens em se iniciar os alimentos complementares antes dos seis meses, podendo, inclusive, haver prejuízos à saúde da criança, pois a introdução precoce de outros alimentos está associada a maior risco de desnutrição, menor absorção de nutrientes importantes do leite materno como ferro e zinco e maior número de hospitalizações por doença respiratória. 

Apesar de a introdução alimentar poder ser iniciada nesta fase, a Organização Mundial da Saúde sugere que o desmame completo seja feito entre os dois e três anos de idade, uma vez que o leite materno continua sendo importante fonte de nutrientes no segundo ano de vida.

Introdução alimentar Respeitando as necessidades da criança

Como afirma a nutricionista Mariana Escanho, o respeito é o primeiro passo para esse processo. É importante entender que cada criança tem o seu tempo e os mecanismos de fome e saciedade estão presentes no organismo, não devendo ser determinados pelo adulto nesta fase de introdução, principalmente enquanto houver oferta de leite.

Quando ela ainda tem oferta do leite, o alimento é uma fonte secundária de energia. O principal papel da introdução não é fazer a criança comer no primeiro dia deste processo, porque ela vai estar sendo alimentada pelo leite, então a ideia é começar a oferecer diversos alimentos para a criança conhecer em relação a texturas, paladar, visão e olfato. É um estímulo muito grande

Por isso, a introdução alimentar pode ser feita sem a pressão do tempo. O objetivo deve ser apresentar alimentos de forma prazerosa, para que a criança os explore e entenda que pode levá-los à boca. E você sabia que o aviãozinho não é o ideal para estimular que ela coma?

“O aviãozinho não respeita a fome, a saciedade e nem o tempo da criança de aproximação do alimento. Ela precisa ter o tempo dela de mastigar, engolir e de entender o tempo que ela precisa para uma nova colherada”, explica Mariana.

Mas como posso introduzir a alimentação?

Comece esquecendo a papinha! Uma das formas de estimular a alimentação é optar por alimentos in natura, trazendo diferentes cores e texturas para os pratos, o que incentiva também a curiosidade dos pequenos. Antigamente, a papinha homogênea com uma só cor e textura era a “queridinha” dos pais pela sua praticidade.

A nutricionista afirma que esse método de alimentação não é o ideal porque pode impedir a criança de descobrir o alimento de formas diferentes e de se interessar por ele.

“Quando tentamos pular as etapas da própria criança, com o cuidador levando a colher com papinha até a boca sem o interesse dela, não estimulamos todo o poder que a criança tem diante do alimento de descoberta, desenvolvimento e principalmente de interesse.”

“Isso pode também favorecer uma relação pior com a comida e a própria seletividade alimentar porque a papinha homogênea não está diferenciando um alimento: é tudo de uma cor só, de uma textura só e de uma vez só. Assim, a criança não está comendo cenoura, arroz e brócolis, mas sim um caldo com um só gosto. Não estimula a diferenciação de paladar e textura, nem de cheiro e de visão”, diz.

Por isso, é bom optar por pratos com pedaços de alimento que a criança possa pegar na mão no tempo dela, se sujar e ela mesma levar à própria boca. Esse método é conhecido como Baby Led Weaning (BLW), que preza por incentivar a autonomia do bebê.

O que não fazer na introdução alimentar?

Alguns erros comuns desse processo são o uso dos alimentos sempre homogêneos e a alimentação forçada, como citamos anteriormente. Mas a nutricionista ainda afirma que outras práticas devem ser abolidas.

Além da papinha e do aviãozinho forçado, se a criança começa a virar o rosto e negar a comida e eu seguir insistindo, isso pode alterar o mecanismo de fome e saciedade dela. Devemos confiar na fome da criança, olhando os sinais que ela me dá e não seguindo a quantidade que eu acredito ser necessária. Também é importante criar esse vínculo com ela e a comunicação passa a existir a partir do momento em que você vê que a criança é a guia desse processo, que é sobre ela!

Meu filho não gostou! E agora?

Se o seu filho rejeitou algum alimento de primeira, muita calma nessa hora! A melhor parte de oferecer os alimentos in natura é entender que, quando há uma negação em comer algum dos elementos, há a possibilidade de prepará-lo de forma diferente.

Comer a batata cozida é diferente de comê-la mais amassadinha e isso pode gerar mais interesse na criança. A criança pode não ter se sentido atraída naquele momento e no preparo específico que a comida foi oferecida, mas não significa que ela nunca se sentirá atraída. 

“A criança está aprendendo sobre os sabores e o paladar dela está em constante modificação. Para eu dizer que a criança não gosta eu preciso dar oportunidades a ela. Cada elemento eu tenho no mínimo 2 preparações, então, para eu dizer que ela não gosta mesmo do alimento, preciso ter tido várias oportunidades de despertar o interesse dela”, completa Mariana.