A prática da horta comunitária é cada vez mais comum nos centros urbanos, a medida em que mais pessoas se interessam pelo conceito e aumentam a conscientização sobre alimentação. Com ela, a alimentação de qualidade é barateada e a comunidade se beneficia.
Saiba tudo sobre como funciona uma horta comunitária e seus benefícios para a saúde!
O que é uma horta comunitária?
O conceito de horta comunitária faz referência à prática de plantio e administração de produção alimentar por trabalho voluntário de membros de uma comunidade auxiliados por especialistas. Feitas nos centros urbanos, as hortas comunitárias surgiram como uma forma de:
- Baratear custos
- Diminuir presença de agrotóxicos
- Aumentar acesso à alimentação
- Aumentar a participação da comunidade
- Diminuir o impacto ambiental da cadeia de produção alimentícia
Em diversas favelas e comunidades do Rio de Janeiro, a técnica de plantio coletivo já é muito frequente e ela pode ser feita em diferentes espaços urbanos. O professor de agrofloresta e co-fundador da CARPE Projetos Socioambientais, Fernando Tanscheit, de 33 anos, explica sobre a prática e incentiva as pessoas a começarem suas hortas.
Sabemos que, durante a pandemia, o número de pessoas que passam fome aumentou muito e chegou a patamares alarmantes. Como já foi reforçado em nossa comunicação e em diversos veículos jornalísticos, o Brasil passa por um cenário assustador: mais de 116 milhões de pessoas não tinham acesso pleno e permanente aos alimentos, segundo dados do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19. Destes, 19,1 milhões efetivamente passam fome, classificada como insegurança alimentar grave. As hortas comunitárias geram alimentos para várias famílias, além de serem uma prática que ensina muito sobre a valorização do meio ambiente e a importância da sua proteção.
Fernando Tanscheit
Fernando Tanscheit percebe que existem dois movimentos simultâneos: o primeiro é de pessoas que viram na agrofloresta uma oportunidade de negócio e o segundo é de pessoas que precisam dela para se alimentarem:
Às vezes, a gente observa que tem gente que tem a necessidade de plantar para comer ou até para estar em contato com a terra”, defende. Na empresa de projetos socioambientais que fundou, a CARPE, Fernando realiza consultorias em sítios, fazendas, mas também realiza projetos de hortas urbanas nas casas das pessoas ou em comunidades. “A horta urbana tem o objetivo de aproximar a gente desse contato com a natureza. Ela caminha, sim, no sentido de trazer uma segurança alimentar, mas é principalmente educativa, para ensinar as pessoas como cuidar e estar com a natureza
Hortas Comunitárias no Rio de Janeiro
O Estado do Rio de Janeiro observou um crescimento das hortas urbanas nos últimos anos, sobretudo no município do Rio. O programa Hortas Cariocas, da Prefeitura do Rio, foi responsável por implementar 42 unidades de hortas (18 em escolas municipais e outras 24 em comunidades), que beneficiam mais de 4 mil famílias de baixa renda.
Em agosto de 2020, o programa Hortas Cariocas ainda entrou para a lista de ações classificadas como essenciais para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, que registra alguns projetos comprometidos com a Agenda 2030.
Como informou a rede de comunicação comunitária Voz das Comunidades, a horta de Manguinhos, Zona Norte do Rio, é a maior horta comunitária da América Latina. Desde 2013, quando foi implementada com incentivo do programa Hortas Cariocas, a área de plantio emprega 21 moradores da favela.
Ainda segundo o Voz das Comunidades, a produção mensal chega a duas toneladas de alimentos, vendidos a um valor simbólico ou doados aos moradores de Manguinhos. Esse tipo de movimento está alinhado à necessidade de se reconectar com as raízes e também de alimentar-se, em um cenário em que o desemprego e a fome reinam.
É por isso mesmo que, quando a CARPE chega para desenvolver um projeto, nada é feito de cima para baixo:
A gente vai mais no processo. Quando nós participamos das formações de horta, chegamos com uma certa bagagem. Sabemos, até certo ponto, o que pode crescer ali, o que vai dar certo naquele solo e ambiente. Mas cabe também aprender com o lugar, entender a necessidade dali.
A CARPE não fez parte do programa Hortas Cariocas, mas atuou na implementação da Horta do Amanhã, no Museu do Amanhã, ação iniciada em 2019 que contou com objetivos pedagógicos, oferecendo palestras e aulas sobre o plantio e a agrofloresta.
“A ideia é mostrar como faz, ensinar e depois as pessoas podem caminhar com as próprias pernas. Essa também é um pouco da transição que a gente busca”, relata Fernando.
A transição a que se refere é a possibilidade que surge dentro desta comunidade mudar os hábitos em relação ao meio ambiente.
Após o ensinamento sobre o manejo dos alimentos, a própria população do espaço participa ativamente de sua manutenção. Além da Horta do Amanhã, a CARPE também faz parte da implementação da horta no terraço da Maison de France e, atualmente, desenvolve um projeto com a Prefeitura de Niterói.
Hortas Comunitárias em Niterói
Em Niterói é possível identificar algumas das mais responsáveis hortas comunitárias nas seguintes localidades:
- Morro do Holofote
- Preventório
- Cavalão
- Vital Brazil
- Santo Inácio
- Rua São José
O programa Niterói Jovem EcoSocial, desenvolvido pela Prefeitura, promove a inclusão social dos jovens, desenvolvendo habilidades sociais e competências profissionais por meio de capacitação profissional e atividades de campo. São diversos cursos de capacitação, incluindo a educação ambiental.
Realizado pela Secretaria de Participação Social (SEMPAS), em parceria com a Firjan e a Universidade Federal Fluminense, o programa conta com a execução do Instituto Moleque Mateiro (IMM), que convidou a CARPE Projetos Socioambientais para implementar as hortas comunitárias.
A implementação das hortas foi feita com mão de obra de moradores de Niterói, associada à Roda Verde, empresa de compostagem de resíduos orgânicos. Atualmente, cerca de 400 jovens com idades entre 16 e 24 anos, moradores de 11 comunidades de Niterói, atuam em atividades como reflorestamento de áreas da cidade, tendo como contrapartida uma bolsa-auxílio de R$ 1,3 mil e cursos de capacitação profissional.
Um dos resultados do projeto é a participação dos jovens em ações da Prefeitura, em áreas de reflorestamento, manutenção de recursos hídricos, ações preventivas de queimadas e atividades visando à manutenção e à sinalização de trilhas da cidade.
É mais uma oportunidade de abordar a questão ambiental de forma prática e mostrar aos participantes e à comunidade envolvida os benefícios de se cultivar o solo, colher o alimento, identificar as plantas alimentícias não convencionais e, principalmente, participar dos processos que a vida nos apresenta