Uma preocupação crescente de quem quer comer bem e saudável é quanto aos alimentos transgênicos. Com muito mistério e opiniões diversas, os geneticamente modificados oferecem muita coisa, menos certeza.
Aqui separamos o que você precisa conhecer sobre transgênicos, OGM e os impactos desse tipo de operação na sua saúde. Confira!
O que são alimentos transgênicos?
Alimentos transgênicos são aqueles que foram modificados geneticamente em laboratório. Essas manipulações visam trazer algumas características especiais, como resistência a pragas ou maior durabilidade. São frutos (com o perdão do trocadilho) da engenharia genética.
Outra forma de se referir a eles é através da sigla OGM (Organismo Geneticamente Modificado).
Sobre a sigla OGM: origem e significado
A sigla OGM (Organismo Geneticamente Modificado) se refere a qualquer organismo (inclusive plantas, animais e microorganismos) cujo material genético foi alterado de maneira artificial. Essa artificialidade pode se referir tanto à inserção de genomas quanto ao cruzamento artificial de espécies.
A tecnologia de OGM começou a ser desenvolvida nos anos 1970 e utiliza técnicas de engenharia genética para inserir, remover ou modificar genes de um organismo de forma a conferir-lhe características específicas.
Embrapa: o órgão responsável pelas pesquisas no Brasil
A Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) é uma empresa pública vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil. Ela é a responsável por realizar pesquisas e desenvolver tecnologias na área agropecuária, visando aumentar a produção e a eficiência na agricultura e pecuária do país. Consequentemente, é também quem olha mais de perto os transgênicos.
O que a Embrapa diz sobre benefícios dos transgênicos para a agricultura?
Não é atoa que a Embrapa se responsabiliza por essas pesquisas. Com uma economia agrária forte e um setor do agronegócio com grande peso no governo, a Embrapa não mede esforços para impulsionar a produção agrícola do país. E os transgênicos oferecem, segundo ela, alguns desses benefícios.
Resistência dos alimentos a pestes
Um dos principais benefícios dos alimentos transgênicos, segundo a empresa, é a resistência às pragas e doenças. Por meio da inserção de genes de outras espécies, é possível criar plantas mais resistentes a pragas e doenças. Em tese, isso significaria menor necessidade de agrotóxicos e menor impacto ambiental.
Além disso, essa resistência permitiria aumentar a produção de alimentos. Com menos competição pela comida, sobraria mais para as mesas e menos para insetos, larvas e animais selvagens.
Aumento de produção
Eles também podem ter uma maior resistência a condições climáticas adversas, como seca ou frio, o que também contribui para um aumento da produção – o que não necessariamente é benéfico, pelos efeitos de seleção natural de pragas.
A maturação rápida também é um facilitador. Sem depender de safras, o que permite colher os alimentos mais rapidamente, se viabiliza um maior número de colheitas no ano.
Durabilidade dos alimentos
Eles também não estragam fácil. Essa é uma das vantagens que se busca alcançar com os transgênicos – apesar de, para isso, sacrificar a qualidade final. Plantas transgênicas podem ser produzidas com características que as tornam mais resistentes ao armazenamento, o que significa que os alimentos podem ser mantidos por mais tempo sem perder suas características nutricionais e organolépticas.
Isso é especialmente importante em países onde a distância até o mercado é grande ou onde há problemas de armazenamento, como no caso de países em desenvolvimento.
Aumento nutricional
Ainda é possível obter um aumento nutricional artificial com transgênicos. Isso ocorre por meio da inserção de proteínas ou vitaminas na composição genética desses alimentos. Um exemplo clássico é a adição de vitamina A em arroz transgênico.
Estudos demonstraram que regiões onde o arroz é a principal fonte de carboidratos tendem a sofrer com carência de vitamina A. Modificar o arroz – base da culinária local – para absorver esse nutriente é um salto de qualidade de vida para os habitantes dessas regiões.
Quais os perigos dos transgênicos?
No entanto, nem tudo são flores. Literalmente. Os transgênicos também oferecem forte perigo para seres humanos, meio ambiente e economia – alguns desses perigos ainda não foram completamente documentados, e muitos só serão tarde demais.
Separamos os principais para que você entenda qual risco está correndo com esses alimentos.
Para o meio ambiente – resistência biológica de pragas
Quando um alimento é modificado geneticamente para se tornar resistente a uma praga específica, isso acelera a corrida da evolução. A praga precisa comer. A planta demanda uma praga mais forte. Logo, novas mutações nas pragas começam a ser selecionadas pela natureza.
Isso pode resultar em pragas mais difíceis de controlar e em um uso ainda maior de pesticidas, o que aumenta o envenenamento. Além disso, a resistência das pragas a alimentos transgênicos pode levar à perda de biodiversidade – nem todos ganharão a corrida.
Para a saúde – alergias
Outro risco relacionado aos transgênicos é a possibilidade de eles promoverem alergias. Isso ocorre quando os transgênicos são produzidos com proteínas que podem ser alérgenas, ou seja, que causam reações alérgicas em algumas pessoas.
É o caso do aumento de pessoas com doença celíaca. Com quase o dobro de genes hoje, o trigo – de onde se origina o glúten que afeta os celíacos – torna-se cada vez mais tóxico para quem tem predisposição.
Para a economia – concentração de capital
Outro risco relacionado aos transgênicos é a possibilidade de eles promoverem a concentração de capital entre produtores. Transgênicos são caros. Tanto de produzir quanto de comprar.
Consequentemente, é possível ver um oligopólio de empresas produtoras de transgênicos, o que pode levar a preços mais altos para os consumidores e a menores lucros para os produtores.
Como identificar alimentos transgênicos?
Os riscos e benefícios levaram a uma gama de modos de identificar os alimentos transgênicos. Saber o que se consome, no entendimento da nossa lei, é um direito. Por isso, a primeira e mais clara de todas é a existência de selos e certificações orgânicas, que garantem que o alimento foi produzido sem o uso de transgênicos.
Outra maneira é verificar a lista de ingredientes no rótulo, procurando por nomes de produtos como “soja transgênica”, “milho transgênico” ou “canola transgênica”.
Além disso, é possível procurar por selos de alimentos sem transgênicos, como o selo “Non-GMO Project Verified” nos Estados Unidos e o selo “Certificado Livre de Transgênicos” no Brasil.
É importante lembrar que, em alguns países, os transgênicos não são obrigatoriamente rotulados como tal, por isso é importante estar atento a essas outras formas de identificação. Já no Brasil, o rótulo com o “T” preto sobre fundo amarelo é o principal indicador da presença da substância.
Exemplos de alimentos transgênicos pesquisados pela Embrapa:
Com grande incentivo do agronegócio e também visando aumento da produtividade de alimentos no Brasil, a Embrapa tem pesquisado formas de desenvolver alimentos transgênicos saudáveis com foco em algumas culturas específicas.
Os principais exemplos – e é notável que a maioria é de produtos para exportação – incluem culturas como soja, feijão, algodão, cana-de-açúcar e outros, buscando obter plantas com maior resistência a pragas e doenças, além de melhorias nutricionais e agronômicas.
Feijão
Esse alimento passou por um processo de transgenia que possibilitou a resistência ao vírus mosaico dourado. Responsável por perdas que variam de 30% a 100% da safra, o vírus sempre foi um empecilho para o pequeno produtor, responsável por 80% da produção de feijão nacional.
Soja
Apesar de ser a primeira planta geneticamente modificada inteiramente gerada no Brasil, a soja transgênica tolerante a herbicidas da classe das imidazolinonas traz diversos riscos e preocupações.
Por um lado, se defendem aspectos como facilidade de acesso por agricultores brasileiros a tecnologias avançadas e ganhos econômicos. Por outro, questiona-se a eficiência dessa alternativa na preservação dos recursos naturais e alertam para os possíveis impactos ambientais e de saúde decorrentes do uso de transgênicos.
Café
É inegável que o cultivo do café é uma atividade econômica importante, com um consumo diário por cerca de 40% da população mundial e movimentação anual de US$ 70 bilhões. No entanto, é preocupante que o agronegócio pareça mais preocupado em maximizar lucros do que em garantir a segurança e saúde dos consumidores.
Isso fica evidente no uso de plantas transgênicas como uma solução para os problemas de pragas, como a broca do café, que pode causar perdas anuais de cerca de US$ 500 milhões.
Algodão
Enquanto o empresariado do setor de algodão se preocupa em minimizar custos de produção, a Embrapa investe em soluções geneticamente modificadas que podem ter impactos desconhecidos na saúde e no meio ambiente.
O bicudo do algodoeiro, praga que pode custar até 25% do custo de produção para ser controlada, tem levado os órgãos públicos a investirem não apenas em mudanças genéticas nas plantas, como também nos animais.
Cana-de-açúcar
Para a Cana-de-açúcar, que sofre com as interferências da broca gigante, o investimento foi em duas linhas: primeiro, incutir nas plantações de cana do Nordeste genes de bactérias predadoras; segundo, realizar modificações gênicas na broca gigante – inseto que preda a cana.
Como evitar alimentos transgênicos
Uma das maneiras de evitar alimentos transgênicos é optando pelo consumo de alimentos orgânicos. Alimentos orgânicos são aqueles produzidos sem o uso de pesticidas e fertilizantes químicos, o que os torna mais saudáveis e sustentáveis.
Além disso, a produção orgânica é regida por regras rigorosas, o que exclui a utilização de alimentos transgênicos. Portanto, ao escolher alimentos orgânicos, você pode ter a certeza de que está consumindo alimentos livres de transgênicos e colaborando com a produção de alimentos de forma mais sustentável e justa.