Agricultura familiar é um dos pilares da produção orgânica no Brasil
Dos pais, herdaram o amor pela sustentabilidade e pela roça. Gustavo e Geovanna, filhos dos agricultores e produtores da Organopão, se inspiram nos pais para darem os primeiros passos em direção a uma profissão no ramo de agricultura orgânica.
Texto por Ana Luísa Vasconcellos
Filho de peixe, peixinho é. Apesar da pouca idade, Gustavo de Carvalho Perico, de 15 anos, e Geovanna de Carvalho Perico, de 13 anos, já pegaram o gosto pela agricultura, amor que compartilham com os pais. Os produtores e sócios da Organopão, Daniel Perico, de 40 anos, e Amanda de Carvalho Perico, de 34 anos, fizeram a escolha de se mudar para o campo e começar seu próprio empreendimento buscando a proximidade com a natureza e a paz que esse estilo de vida proporciona.
Hoje, os filhos colhem os frutos dessa decisão e já começam a dar os primeiros passos em direção a uma profissão no ramo de agricultura orgânica, apesar de ainda conciliarem o tempo na roça com a dedicação aos estudos na escola. “Eles gostam da vida aqui, porque é mais tranquilo do que na cidade. Viemos para fugir de todos os problemas das cidades grandes, como a violência. Queríamos ter uma vida diferente e menos estressante, e até então eles compartilham disso conosco. Pode ser que isso mude, porque o tempo passa e as crianças crescem. Se quiserem ir para a cidade, nós vamos apoiar. Não adianta você trabalhar em uma coisa que não te faz feliz”, compartilha Daniel.
Agricultura familiar
No Brasil, a agricultura familiar é a principal responsável pela produção dos alimentos que são disponibilizados para alimentar o país, constituindo 77% dos estabelecimentos agrícolas. De acordo com o Censo Agropecuário 2017, realizado a cada década, o segmento da agricultura familiar é responsável por 48% da produção de café e banana nas culturas temporárias e, nas culturas permanentes, responde por 80% da produção de mandioca, 69% do abacaxi e 42% da produção do feijão.
Uma característica forte desse setor é essa diversidade produtiva, já que muitas vezes as famílias aliam os produtos destinados ao mercado com a produção de subsistência. Para a agricultura orgânica, essa prática é a ideal, porque possibilita uma alternância de produção, oferecendo ao solo possibilidade de se reconstruir; de forma completamente oposta à monocultura praticada pelos grandes produtores, que esgota os recursos do solo com a produção em larga escala de um único cultivo.
O conhecimento que passa “de pai para filho” é uma importante forma de manutenção dos estabelecimentos familiares, garantindo que aprendam tudo sobre a área, geração após geração. A gestão da propriedade é compartilhada pela família, sendo a atividade agrícola a principal fonte de renda. Na Organopão, esse é o caso. O sustento da família, em sua maioria, sai da panificadora e da venda dos alimentos orgânicos. A valorização do trabalho no campo que os filhos aprenderam vem também desse fato. “É uma sensação maravilhosa ver meus filhos em um bom caminho. Eles cresceram na plantação, desde criança indo pra roça, então hoje se eu quiser posso confiar a padaria na mão deles porque sei que eles sabem fazer tudo”, afirma Daniel.
Orgânico por natureza
Desde que criaram a Organopão, em 2015, Daniel e Amanda tinham como meta a produção sustentável e saudável, com alimentos orgânicos que não utilizam venenos no plantio. Amanda é também filha de agricultor e, desde pequena, aprendeu a se ambientar no campo com o seu pai. “Comecei ajudando ele na horta com meus irmãos e depois de certo tempo parei de trabalhar com ele e fui plantar sozinha. Minha família sempre trabalhou com isso e meu pai inspirou todos na nossa casa a trabalhar com ele. Nunca passou em nossa cabeça ter outra formação, tanto eu quanto meus irmãos trabalhamos com hortas”, afirma.
Daniel, por sua vez, só foi conhecer a agricultura de perto depois de ter se casado com ela e, aos poucos, começou a entender essa como uma carreira. Ele havia começado a trabalhar em uma empresa de contabilidade, assim como seu pai, que também era contador. Mas a rotina estressante da economia e dos escritórios o afastou da cidade, para que encontrasse sua vocação na roça. “A minha inspiração sempre foi a minha esposa”, explica. Os dois encontraram uma organização que funciona bem: enquanto Amanda cuida da plantação na roça, Daniel fica responsável pela panificadora da Organopão.
No sítio, são produzidos diversos alimentos orgânicos, como abobrinha, alfaces, batata inglesa, brócolis, batata doce, berinjela, beterraba, cenoura, cebolinhas, couve flor, inhame, limão, mini melancia, salsa, entre outros. Alguns desses produtos são utilizados também na produção dos pães de batata, de abóbora, de batata doce roxa, de batata doce cenoura e de batata inglesa integral.
Infância na roça
Agora, os dois são exemplos para os filhos, que compartilham dos valores da sustentabilidade da empresa. O mais velho, Gustavo, não só ajuda a mãe na roça como também tem o seu próprio espaço na terra, onde planta salsa, cebolinha, couve, entre outros temperos e verduras. “Eles entendem bastante sobre sustentabilidade e plantação. O Gustavo já tem uma moto zero que ele comprou com o dinheirinho que ganha com os seus produtos e trabalhando conosco. Além da plantação, nós damos um salário para incentivá-lo a participar. Ele só tem 15 anos então o céu é o limite para ele”, se orgulha Daniel.
A filha mais nova, Geovanna, aos 13 faz questão de contribuir com a empresa familiar e fica responsável por anotar os pedidos, fechar entregas e fazer as notas. A jovem já demonstra habilidades nas áreas de administração da empresa. “É igual a mim com os números! Muito boa em matemática, vai puxar essa parte de contabilidade. É ela que fecha os pedidos, o que é de muita ajuda, porque me deixa focar mais na área da produção”, explica o pai.
Orgulhosos do apoio que os filhos proporcionam, Amanda e Daniel reforçam que irão apoiá-los em qualquer decisão que tomem para suas vidas profissionais e comentam que o amor que compartilham pelo trabalho no campo os fortalece. “A Organopão para a nossa família é tudo! Foi mais um filho que nasceu e hoje só temos elogios”, comenta Daniel. “Nós somos muito felizes por saber lidar com uma produção tão mágica e ter contato com a terra todos os dias. Se todos soubessem como é esse cuidado com a terra, dariam mais valor aos alimentos e passariam a consumir mais”, conclui Amanda.