Na região das baixadas litorâneas do Rio de Janeiro o clima é quente e úmido durante boa parte do ano, o que caiu muito bem para o cultivo da palmeira do açaí (Euterpe oleracea), que é nativa da Amazônia, uma região justamente com estas características. O produtor rural Oscar Castro Lima Filho comemora hoje o investimento no plantio da palmeira que fez há mais de 10 anos na sua propriedade, a Estância Berro Brasil, na cidade de Silva Jardim: “Plantamos mais de 30 mil mudas em uma área de mata e elas se adaptaram muito bem, não dão doenças e o manejo é mínimo”, conta. Oscar trabalhou a vida toda no ramo de Tecnologia da Informação e desde que comprou a propriedade em 2002 tinha o sonho de viver mais na terra, porém uma nova oportunidade na área da tecnologia o segurou mais de uma década na cidade, só conseguindo tocar a fazenda aos finais de semana. Somente em 2015 resolveu sair do mercado e se dedicar inteiramente à produção.
Na Estância Berro Brasil, Oscar cultiva coco, feijão e outras culturas anuais, além de criar galinhas e um pouco de gado, mas o açaí é seu carro-chefe. Além da colheita, os funcionários também produzem a polpa do açaí, dentro de uma pequena agroindústria na própria fazenda. Oscar conta que seu objetivo foi desenvolver um produto de alta qualidade, pois “sempre me interessou fazer uma polpa grossa, densa, que seja usada com qualquer fruta e não seja aguado como são muitas do mercado”, analisa.
E esta polpa é a que caiu no gosto dos cariocas há um bom tempo. Na verdade, dos brasileiros de um modo geral. Apesar do consumo não ser tradicional como no Norte, acompanhando peixes e farinha, por exemplo, ela já fez sua própria fama, batida com frutas e acompanhada de granola. Além do sabor único, a fruta é apreciada por alimentar e dar disposição para atividades físicas. O que nem todo mundo sabe é que o açaí além de todas estas propriedades, ajuda a combater a anemia. É um pratão pra saúde.
Palavra de ordem: interação
Ao contrário da sua plantação de coqueiros, onde Oscar precisa eventualmente intervir com algum remédio natural, como calda sulfocácica ou calda de pimenta para controlar brocas e outras doenças, as palmeiras de açaí nunca precisaram de nenhum remédio, nem mesmo os naturais: “Apesar de não ser uma agrofloresta, eles foram plantados com uma área muito grande, de mais de 30% de mata, então não é um consórcio específico, mas sim uma interação com toda a floresta do entorno”, avalia Oscar. Esta “floresta do entorno”, citada por Oscar, faz parte do corredor do Mico Leão Dourado, uma faixa de florestas interligadas que tem o objetivo de contribuir para a conservação deste primata, que ainda é ameaçado de extinção.
O produtor explica que o açaí – assim como toda produção vegetal da propriedade – é certificado como orgânico há 4 anos, mas o processo de beneficiamento é agroecológico, pois está em processo de certificação: “Não saiu ainda porque a pandemia atrasou tudo, mas estamos no caminho”.
Também como produto de uma interação, mas desta vez social, Oscar fundou com outros proprietários de fazendas de orgânicos da região a Agrobali, Associação dos Agricultores Orgânicos das Baixadas Litorâneas e Adjacências do Estado do Rio de Janeiro . A meta principal , segundo Oscar, é contribuir para mais iniciativas orgânicas no entorno: “Nós nos reunimos com o objetivo de realizar projetos para ajudar os agricultores familiares”, resume.
Seja na convivência com a floresta ou na convivência com os agricultores locais, o plantio de açaí orgânico exibe mais uma rica experiência de um mundo sem venenos e com mais diversidade.